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17/02/2009

 
 
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Viaduto Aricanduva

 

Acidente provoca caos na zona leste de São Paulo

 

 

Aproximadamente às 12:30 hs do dia 28 de novembro de 2000, os motoristas e passageiros de dois veículos de passeio viram, cerca de 10 metros a sua frente, formar-se um degrau de 25 cm na pista do Viaduto Alberto Badra, mais conhecido como Viaduto Aricanduva. Apesar das tentativas de frear os veículos, o choque inevitável teve violência suficiente para furar três pneus de um dos veículos e causar ferimentos leves nos passageiros. Após o acidente, as condições funcionais da obra justificaram a sua imediata interdição, que seria necessária mesmo que o degrau permitisse a circulação de veículos, apenas considerando os riscos envolvidos pela condição instável do apoio do vão extremo do tabuleiro. Convocados pela Heleno & Fonseca Construtécnica S.A. cerca de três horas depois do acidente, os engenheiros da TECPONT chegaram ao local para a vistoria preliminar e a discussão de propostas conceituais, lastreadas apenas na experiência dos profissionais da Tecpont, da Heleno & Fonseca, da Rohr e da Protende.

 

Com o rompimento por compressão da parte inferior do septo de apoio, o vão extremo do tabuleiro de quatro vãos de 41,40 m perdeu momentaneamente o suporte, cedeu um valor que praticamente transformou o vão em um balanço durante o processo e estacionou com o vão apoiado em pedaços de concreto, mantidos no local pelas armaduras deformadas. Os deslocamentos deste suporte continuavam a ocorrer, sinal de que o sistema era instável e não possuia resistência para suportar a reação teoricamente avaliada de 480 tf. Como comportamento natural das estruturas, o momento fletor no apoio vizinho cresceu até o limite de fissuração procurando reduzir a reação sobre o suporte rompido, condição esta confirmada com o surgimento de fissuras naquela região.

 

O P-220, pilar na junta oposta do mesmo tabuleiro, teve seus apoios de junta reforçados no programa de manutenção executado pela PMSP e concluído 3 meses antes do acidente, oportunidade em que o P-224 foi vistoriado e nenhum problema foi constatado.

 

A causa provável do acidente deve estar relacionada a uma abertura anormal da junta de dilatação do pilar nos últimos meses, período em que a abertura deveria ter diminuído com o aumento da temperatura média ambiente. Considerando que um grande volume de tráfego de cargas pesadas foi direcionado para o Complexo Aricanduva nos dias anteriores à ocorrência, o concreto dos berços de apoio, sob impactos fortes e freqüentes das rodas dos veículos, sofreu ruptura por fadiga.

 

Estudadas as propostas apresentadas com o objetivo de sustar o processo de perda de estabilidade da obra considerando os riscos envolvidos, assim como os prazos para efetivar o restabelecimento das condições de equilíbrio estável e de segurança de utilização, optou-se por executar os seguintes serviços iniciais de emergência:

  • Exercer monitoramento contínuo das deformações dos pontos críticos e indicativos de perda de estabilidade;

  • Escavar cuidadosamente em torno do pilar até a cota superior do bloco e executar sondagens do solo próxima do apoio em questão;

  • Escoramento rápido do tabuleiro com torres tubulares, mesmo que sobre fundação direta e deformável, para melhorar as condições de trabalho sob a obra;

  • Jatear concreto na lateral do berço para vedar os locais rompidos e possibilitar o preenchimento dos vazios entre blocos de concreto rompidos com graute ou resina, melhorando as condições de apoio, mesmo que parcial e paliativa;

  • Execução simultânea de uma torre metálica para escoramento e macaqueamento do tabuleiro;

  • Após sustar o mecanismo de perda de estabilidade, iniciar o reforço do berço e o topo do pilar com solução semelhante aquela já executada em outras 6 juntas do complexo;

  • Executar inspeção das outras juntas ainda não tratadas e das células dos caixões para limpeza e drenagem das águas de infiltração.

O dreno de águas infiltradas no caixão não parou de verter durante a inspeção, enquanto aumentavam nossos receios de que um acidente mais grave ocorresse. No dia seguinte, enquanto a TECPONT reunia os detalhes do projeto estrutural e do projeto dos serviços de reforços executados, foram iniciados os serviços para o isolamento da área com tapumes, a sinalização e a mobilização de containers e equipamentos: retroescavadeira, compressor de ar com marteletes, guindaste hidráulico de 20 ton e caminhão equipado com munck. Foi executada, ainda, uma escavação cuidadosa em torno do pilar P224 para verificar as dimensões e cota de implantação do bloco. Foi constatado que o bloco sai 30 cm para cada lado do pilar, impossibilitando o apoio do escoramento com perfís metálicos. Com os dados levantados no campo foi iniciado o detalhamento do escoramento com perfis metálicos apoiados sobre blocos de concreto armado e estacas raiz. Os serviços de sondagem a percussão foram iniciados no dia 30/11/2000.

 

Enfrentando os riscos inevitáveis, os trabalhos foram desenvolvidos sob o alerta do monitoramento contínuo. Na fria madrugada da sexta-feira, dia 01/12/2000, caíram alguns pedaços de concreto do berço no chão, junto aos operários que trabalhavam no local. Verificado que não ocorreram modificações no desnível sob monitoramento, os trabalhos foram reiniciados com a máxima velocidade permissível. No domingo, notou-se o crescimento da velocidade do afundamento sob monitoramento, fato que exigiu programar o trabalho em turno contínuo e a mobilização imediata do escoramento simultâneo em torres metálicas tubulares. Movimentos verticais do apoio do tabuleiro em condição de equilíbrio instável ocorreram várias vezes, ocasiões em que as atividades eram repentinamente interrompidas.

 

Na medida em que se concretizavam os escoramentos com torres tubulares sobre fundação adensável e com perfis encostados ao pilar, de eficiência parcial e resistência prejudicada pela grande altura sem travamento confiável, os deslocamentos verticais se estabilizaram.

 

Consolidadas as expectativas de sucesso, passamos a inspecionar as demais juntas, justificados não só pela ocorrência como pelo desvio de reações verificado nos processamentos realizados para os aparelhos de apoio. Considerando a grande altura da maioria dos pilares, este trabalho foi realizado com o auxílio de equipamentos móveis com braços telescópicos articulados.

 

Nas inspeções realizadas nas peças responsáveis pela transferência das cargas dos tabuleiros aos pilares de junta, foram cadastradas as seguintes anomalias típicas:

  • Juntas com aberturas superiores aquelas previstas em projeto, algumas chegando a ultrapassar valores de 10 cm, como as dos pilares P-606 e P-1009, entre outros. Os selos destas juntas foram recentemente tratados, entretanto o entulho que impede as deformações de expansão da estrutura dos tabuleiros pelo aumento da temperatura do concreto não foi integralmente removido;

  • Os prolongamentos dos septos dos apoios extremos, criados para transferência de reações dos tabuleiros aos aparelhos de apoio, apresentam regiões de concreto segregado e baixo cobrimento das armaduras. Em alguns deles, como nos pilares P-206, P-210, P-212,  P-217, P-233, foram notadas trincas clássicas de esgotamento por flexo-compressão, exigindo tratamento urgente, semelhante ao projetado para o P-224;

  • A maioria dos aparelhos de apoio estão distorcidos e com deformações por compressão, alguns encontram-se parcialmente expulsos do seu berço previsto, exigindo providências imediatas;

  • Alguns pilares, como o P-1009, apresentam cunhas de ruptura localizada nos cantos superiores.

Na inspeção por amostragem de algumas células fechadas dos caixões, exceto a do P-224 em razão dos riscos envolvidos antes que fosse realizada a operação de macaqueamento do tabuleiro, aproveitando a interdição da obra, foram abertas janelas na laje superior para possibilitar o acesso ao interior dos caixões, primeiramente nas células próximas de apoios de junta, quando pudemos constatar:

  • A presença de formas não removidas, fissuras nas lajes e transversinas, acúmulo de águas infiltradas, concreto segregado, ancoragens dos cabos de protensão desprotegidas e armaduras expostas. As lajes de fundo do caixão em sua porção inclinada apresentaram fissuras e trincas inclinadas de forma sistemática nos painéis de extremidade. Os sinais de infiltrações antigas através destas fissuras criam expectativas de acúmulo freqüente de água, mais intenso nas células vizinhas ao nicho externo da seção projetada para drenagem superficial;

  • Os nichos laterais para condução das águas de drenagem encontravam-se cheios de entulho.

  • Um deslocamento na direção transversal no suporte do tabuleiro TR-09 no P-230, em circunstância que, dificilmente, poder-se-á julgar tratar-se de defeito de origem.

Um programa complementar aos trabalhos de emergência, que hoje estão sendo executados no pilar P-224, foi definido após a execução de uma inspeção mais profunda e extensiva as células intermediárias para a definição dos tratamentos adequados de restauração e manutenção da obra.